quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O ENIGMA DE CLARA CROMWELL E OS CINCO SIGNOS DA MAGIA - Capítulo I - A DUQUESA, A HEROINA E UMA TATUAGEM



“Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida.”
-Carlos Drummond de Andrade-



     Eu estava ali, no batente da janela de meu quarto. Estava – pelo menos de corpo. Confesso que a beleza do luar tinha-me arrebatado meus doces pensamentos que se encontravam tão distantes quanto as terras da Europa – aquelas que outrora eram meu lar.

     O título de duquesa era um estigma, carregava-o desde meu nascimento e, mesmo antes de mim já se fazia presente em minha família. Sou a jovem duquesa, Clara Cromwell Verena de Albuquerque – sou a única com o sobrenome Cromwell, mamãe disse-me que se tratava de uma homenagem à uma poderosa e heróica bruxa que chamava-se Clarissa Cromwell. Desde criança Clarissa tinha se tornado um exemplo para mim. Sempre pensei no que ela faria ou como se comportaria se passasse pelas situações que tive de passar.

     Sou irmã de Carolina Verena de Albuquerque – a qual tenho a impressão de não gostar de mim, filha do duque Marcos Verena de Albuquerque – um pai amoroso, contudo, muito rígido em certos momentos e da duquesa Paloma Verena de Albuquerque – esta que tenho certeza de que habitaria o céu, se acaso não fosse bruxa – como todos os indivíduos que carregam consigo o sobrenome Verena. 

     Eu trazia sob minha pele algo que jamais pude compreender ou explicar. Era uma tatuagem, cheia de letras e símbolos que cobriam minhas costas. Desde a gênese de minha existência já possuía em mim estas marcas. 

     Elas eram ao mesmo tempo segredo e enigma. Ninguém, (excerto minha família e Alice), sabia do meu sinal. Os questionamentos sobre este mistério que estava impregnado em minha pele tão alva e delicada tornaram-se rotineiros para mim. Algo dizia-me que meus pais sabiam sobre o que era e, para que era quilo porém, mudavam de assunto quando eu os indagava -era sobre mim! Eu tinha o direito de saber! – e parava, tentando pensar o que Clarissa pensaria que fosse tudo aquilo em mim.

     Tudo o que recebi em resposta às minhas perguntas foram somente silêncio e palavras vagas, talvez mentirosas. Aprendi a vestir-me sozinha, não queria que ninguém soubesse daquilo que nem mesmo eu poderia compreender. Comecei a passar horas nua em frente ao espelho, olhando aqueles traços tão variados e misteriosos. Nada pude entender.

     Alice ajudava-me. Ela freqüentava uma antiga livraria na Rua do Marquês de Klavaroski, falava-me sempre de um simpático senhor inglês, o senhor Mc. Feeld. Fazia-se muito tempo que ele era proprietário da Libri & Veneficus, sua loja de livros, a mais antiga de toda capital do império.



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